Introdução: A importância da profilaxia do tromboembolismo venoso em cirurgia ortopédica é cada vez mais significativa. Contudo, há doentes com acréscimo de fatores de riscos e cujas estratégias de profilaxia são mais difíceis de se estabelecer. Apresentamos um caso raro de eventos trombóticos num doente com fratura proximal do fémur e uma abordagem atualizada e crítica dos meios de profilaxia disponíveis, bem como das orientações clínicas atuais.

Caso clínico: Paciente do género feminino, 93 anos, internada por fratura subtrocantérica do femur esquerdo, com fatores de risco elevados para eventos trombóticos. Apesar de estar a realizar profilaxia tromboembólica desenvolve quadro de isquemia aguda embólica dos membros superior e inferior direitos. Foi submetida a tromboembolectomias via umeral e femoral com melhoria clínica. Posteriormente foi intervencionada com redução cruenta e osteossíntese com placa proximal do fémur. O período pós-operatório decorreu sem intercorrências.

Discussão: A tromboprofilaxia pode representar um dos maiores benefícios para os pacientes que necessitam de uma intervenção ortopédica. Apesar de existirem várias guidelines sobre a profilaxia trombótica para a população em geral, na prática diária lidamos com doentes com especificidades próprias e cuja generalização dessas normas nem sempre é fácil. Este caso clínico exemplifica a importância desta temática, bem como da existência de critérios fidedignos para estratificar populações de risco. Mais estudos devem ser realizados para melhores orientações neste grupo de pacientes.

A rotura da fáscia plantar (FP) é um diagnóstico pouco descrito na literatura e ocorre habitualmente em atletas praticantes de desportos de alto impacto, maioritariamente os que envolvem corrida e salto. Ocorre sobretudo em doentes com história de fascite plantar ou após injeção de corticoides na FP, especialmente se alterações da estática do pé estão presentes. Reportamos o caso clínico de um homem de 34 anos, atleta veterano, que recorreu à consulta por dor, edema do pé e incapacidade para a marcha após um salto durante um jogo de basquetebol. Quando questionado acerca da história pregressa descreve vários episódios de dor mecânica no calcâneo que evoluíram ao longo de 4 a 6 semanas, a maioria deles durante treinos de basquetebol, mas que também se manifestavam nas atividades do dia-a-dia. O exame clínico e o estudo ecográfico sugerem a presença de rotura da fáscia plantar. A ressonância magnética (RM) confirmou a rotura aguda de espessura completa na FP proximal e detetou ainda outra rotura, mais pequena e provavelmente crónica, de espessura parcial em localização mais distal. Foi prescrito um programa de reabilitação funcional com introdução do treino às 6 semanas e a competição às 12, sem queixas relevantes.

A presença de duas áreas de rotura na FP é um achado pouco descrito na literatura e este caso reforça o conceito de que a maioria das roturas agudas ocorrem sobre uma FP já previamente fragilizada.

Objetivo: As fraturas atraumáticas do acrómio em artroplastia invertida do ombro (AIO), são uma complicação pouco frequente. O diagnóstico é habitualmente difícil e não existe consenso universal quanto ao seu tratamento. O prognóstico é reservado, independentemente do tipo de fratura e opção de tratamento. A literatura é escassa neste tema, com grandes diferenças entre amostras, avaliação e opções de tratamento, o que dificulta e limita a obtenção de consensos na sua abordagem. Partilhamos um caso de fratura atraumática do acrómio em AIO, em que a nossa abordagem permitiu a obtenção de uma recuperação completa.

Descrição: Mulher de 75 anos de idade, submetida a AIO primária, por artropatia da coifa dos rotadores.Excelente recuperação funcional aos 3 meses de operada com regressão completa do quadro álgico. Omalgia súbita, atraumática e associada a marcada perda do arco de mobilidade ativa do ombro aos 4 meses de operada, por fratura acromial. Submetida a tratamento cirúrgico, através de redução aberta e osteossíntese da fratura com placa LCP, por abordagem posterior. Recuperação funcional completa, sem dor.

Comentários: Apesar de se tratar de uma complicação pouco frequente, ela existe e requer alta suspeição clínica.Frequentemente a avaliação radiológica não permite o diagnóstico destas fraturas, sendo a Tomografia Computorizada o método de excelência para o seu diagnóstico. Requerem um seguimento apertado e uma decisão terapêutica firme, pois a evolução para pseudoartrose é muito alta no tratamento conservador.A brevidade no seu diagnóstico  e a estabilização rígida precoce destas fraturas, poderá vir a ter um impacto importante no prognóstico final.

Introdução: A artrose da articulação interfalângica proximal (IFP) é uma condição frequente e pode ser debilitante, tanto pela dor como pela rigidez articular.

Na maioria das situações o tratamento fisiátrico e medicação analgésica são suficientes para o controlo sintomático ficando o tratamento cirúrgico reservado para as raras situações em que não há melhoria com o tratamento conservador e que condicionam limitação funcional.

A artroplastia da IFP, em oposição à artrodese, preserva a mobilidade articular e potencia uma melhoria da função da mão, no entanto, tem maior custo associado, é mais exigente tecnicamente e apresenta maior risco de complicações.

A literatura apresenta bons resultados clínicos, principalmente na satisfação do doente e alívio da dor - ainda que em séries com poucos doentes.

A prótese Capflex® PIP (KLS Martin Group, Tuttlingen, Alemanha), foi desenvolvida com a vantagem potencial de preservação de stock ósseo e maior estabilidade articular - pela preservação das inserções dos ligamentos colaterais. Apresentamos o primeiro caso clínico com resultado entusiasmante.

Caso Clínico: Doente de 57 anos, seguida na consulta de Ortopedia, com diagnóstico de osteoartrose (OA) da IFP do 3.º dedo da mão direita (dominante), com dor, deformidade e rigidez articular incapacitantes. Descreve-se o tratamento, utilizando artroplastia IFP não restritiva com prótese Capflex® PIP (KLS Martin Group, Tuttlingen, Alemanha), bem como a evolução pós-operatória durante um período de 12 Meses de follow-up.

Objetivo / Discussão: Este estudo estabelece uma visão atualizada sobre uma das novas opções cirúrgicas na artroplastia nas articulações IFP.

Conclusão: A artroplastia da articulação IFP é uma opção de tratamento que tem evoluído com os avanços dos biomateriais e da melhoria do design dos implantes, tornando-se cada vez mais popular, e posicionando-se como uma boa alternativa à artrodese.

Novos implantes, como a prótese Capflex® PIP (KLS Martin Group, Tuttlingen, Alemanha), para além de permitirem preservar a mobilidade e estabilidade articular têm a vantagem potencial de preservação de stock ósseo para eventual cirurgia de resgate. São, contudo, necessários mais estudos com amostras e follow-up alargados para que se conclua o seu sucesso.

Objetivo: A artroplastia invertida do ombro (AIO) pode ser usada no tratamento de fraturas do úmero proximal e luxações inveteradas do ombro associadas a ruturas maciças da coifa dos rotadores, com bons resultados clínicos e funcionais. Contudo, lesões do plexo braquial ou do nervo axilar, com consequente paralisia do músculo deltóide são classicamente descritas como contra-indicações para a AIO. Os autores pretendem apresentar o resultado clínico e funcional de dois doentes com lesões traumáticas do ombro e consequente lesão do plexo braquial, tratadas com AIO.

Descrição de caso: Caso 1: mulher, 76 anos, com luxação anterior do ombro, inveterada. O estudo imagiológico revelou rutura maciça da coifa dos rotadores e a eletromiografia era compatível com lesão infraganglionar dos troncos superior e médio do plexo braquial. Caso 2: mulher, 66 anos com fratura-luxação do úmero proximal; clinicamente com paralisia motora e sensitiva do membro superior ipsilateral. Ambos os casos foram tratados cirurgicamente com AIO e reabilitação pós-operatória. Os estudos de condução nervosa, realizados um ano após início da reabilitação, mostraram reinervação muscular e as doentes recuperaram parcialmente o arco de mobilidade ativa, sem episódios de instabilidade ou dor. Os casos apresentados pontuaram 42 e 32 no score Constant Murley e 80 e 70 no score ASES, respetivamente.

Comentários: As lesões do plexo braquial podem não ser uma contra-indicação absoluta para a AIO.

A artroplastia total do joelho é um procedimento cirúrgico comum. Descolamento asséptico, infeção, desgaste e instabilidade dos componentes protésicos podem motivar uma artroplastia de revisão acompanhada de extensas perdas de massa óssea. Apresenta-se um caso clínico de um homem com artroplastia total do joelho dolorosa e com um defeito ósseo extenso não contido. Realizou-se uma artroplastia de revisão em um tempo recorrendo ao uso de aloenxerto ósseo e de cones metafisários de reconstrução. A anatomia do joelho foi reconstruída, resultando num joelho funcional e indolor. O restauro da massa óssea, da anatomia do joelho e do seu balanço ligamentar é obrigatório para uma artroplastia de revisão de sucesso.

O leiomiossarcoma (LMS) é um tumor raro, principalmente no pé e tornozelo, com poucos casos descritos na literatura e sem consenso no que concerne ao seu tratamento. Apresentamos o caso clínico de um paciente do sexo masculino, de 64 anos, que se apresenta com uma formação nodular de 4x4x2,6 cm nos planos superficiais da região peri-maleolar interna. Após a excisão cirúrgica, o diagnóstico de LMS foi confirmado. Um estudo aprofundado posterior  descartou a existência de metastização associada. Por outro lado, optou-se pela não realização quimioterapia ou radioterapia. O paciente apresenta-se com um score FADI de 100% e livre da doença após 2 anos de seguimento.

Objetivos: O intuito do trabalho é além de relatar as manifestações esqueléticas e extraesqueléticas da Osteogênese Imperfeita (OI), abordar a importância do tratamento multidisciplinar.

Descrição: A Osteogênese Imperfeita é uma doença genética caracterizada principalmente pela fragilidade óssea, que pode ser diagnosticada durante a gestação. O presente relato descreve o caso de uma paciente do sexo feminino que teve suspeita de OI intra-útero, com confirmação logo ao nascer, a partir de exames radiológicos que evidenciaram rarefação óssea, inclusive em calota craniana, e fratura de fêmur direito. A conduta inicial foi a colocação de gesso pélvico podálico para imobilização e somente após o primeiro ano de vida iniciou-se o tratamento com Pamidronato. Nesse período de espera pela liberação da medicação pelo Sistema Único de Saúde a paciente apresentou novas fraturas, as quais não se repetiram após o inicio do  tratamento medicamentoso.

Comentário: Sendo a OI uma doença rara é crucial que haja tratamento precoce para que se obtenha um melhor prognóstico.

Objetivo: A Hemimelia Fibular (HF) é uma deformidade congénita rara que inclui um largo espectro de anomalias desde dismetria dos membros inferiores a deformidades do pé e tornozelo.

Descrevemos a abordagem e reconstruções realizadas no tratamento de doente com dismetria dos membros inferiores por HF direita.

Descrição: Doente seguida em consulta de Ortopedia Infantil por HF direita, Achterman-Kalamchi II, Birch 1C, Paley 3A. Aos 11 anos, apresentava dismetria de 8cm dos membros inferiores, pé com 3 raios e tornozelo com 0º de dorsiflexão. A dismetria previsível à maturidade era aproximadamente 9,52cm.

Aos 11 anos, submetida a epifisiodese percutânea com broca do fémur distal e tíbia proximal esquerdos. Aos 12 anos, foi submetida a cirurgia reconstrutiva da perna direita, com ressecção da banda fibrosa fibular, alongamento do gastrocnemius tipo vulpius e alongamento de 7,5cm da tíbia com fixador circular, com índice de consolidação 1,86 meses/cm. Aos 16 anos submetida a alongamento de 2cm do fémur direito com cavilha magnética, com índice de consolidação 1,75 meses/cm.

Aos 17 anos apresenta membros inferiores bem alinhados e dismetria de 3mm por encurtamento residual do membro inferior direito. Sem limitações nas atividades de vida diária, faz desporto e apresenta uma pontuação Kidscreen-10 de 49/50.

Comentários: Como resultado final obteve-se igualdade de comprimento dos membros inferiores com uma doente satisfeita e com uma excelente qualidade de vida. É essencial prever a diferença do comprimento dos membros na maturidade e propor um plano cirúrgico para corrigi-la com o menor número possível de cirurgias, distribuídas ao longo dos anos de crescimento da criança.