DISCUSSÃO
A média de idade dos pacientes operados foi de 75.6 anos, valor superior ao encontrado em diversos estudos que analisaram a ARO, cujas médias foram de 72 anos11, 72.3 anos12 e 71.5 anos, essa última, em revisão de 35 estudos4.
A amostra foi composta por 89.3% do sexo feminino e 10.7% do sexo masculino. Essa predominância feminina é condizente com os dados apresentados por alguns estudos nacionais, que constataram 54%3, 61%11 e 96.3%5 de participação feminina.
Dentre as indicações para o procedimento, a mais comum foi a AMR (39.3%), seguida pela lesão extensa do MR (28.6%) e revisão de prótese primária (10.8%). As demais indicações - artrose primária, fratura aguda e sequela de fratura - corresponderam, cada uma, a 7.1% dos casos. Fica evidente, a partir da análise da literatura, que a AMR é a indicação mais freqüente3,4,12, enquanto que a prevalência das demais indicações varia de acordo com o estudo analisado3,4,12.
Na presente análise, o escore funcional de Constant apresentou média de 67.8 pontos, valor superior às médias encontradas na literatura especializada: 58.9 para Atalar et. al, 60 para Amaral et. al, 63.5 para Fernandez et. al e 49.3 para Ortmaier et. al.11-14.
Quanto ao questionário da ASES, foi encontrada a média de 69.4 pontos no pós-operatório, valor inferior aos apresentados por Neto et. al e Renfree et. al de 82,7 e 86, respectivamente3,15.
O escore UCLA pré-operatório obteve resultado médio de 10.2 pontos (n=26), já a média pós-operatória foi de 29.6 pontos, valores compatíveis com os encontrados por Fávaro et. al, de 10.1 e 29.8 pontos para pré e pós-operatório, respectivamente5, porém bem superior aos alcançados por Ortmaier et. al14, de 7.1 e 21.6 pontos, respectivamente.
O delta UCLA absoluto mostrou aumento médio de 19.4 pontos, o que corresponde a um aumento relativo de 228%, diferença com significância estatística (p<0.0001). O aumento médio encontrado por Fávaro et. al foi de 19.7 pontos, por Simovitch et. al foi de 16.7 e por Ortmaier et. al foi de 14.55,14,16. A grande diferença em relação a este último autor provavelmente deve-se ao fato de que sua análise incluiu apenas pacientes cuja indicação da ARO foi a revisão de artroplastia primária, condição que apresenta os piores resultados para esse procedimento14.
Quanto à ADM, esta pesquisa encontrou o valor médio de 137.6º de elevação, inferior aos valores encontrados por Amaral et. al e Atalar et. al, de 150º e 149º, respectivamente11,13. Em comparação aos mesmos autores, a médias da RL a 0º de abdução (16.7º) e a 90º de abdução (35º) foram discretamente inferiores, 20º e 37º, respectivamente11,13. Essa diferença deve-se, possivelmente, ao fato de que ambos os trabalhos avaliaram apenas pacientes operados por AMR e com médias de idade inferiores à dos pacientes que participaram desse estudo. No entanto, a média da RM foi entre L1 e L2, superior à média encontrada nos mesmos estudos11,13.
Os pacientes maiores de 75 anos (53.57%) obtiveram escore UCLA pós-operatório (p=0.004) e grau de muita satisfação (p=0.049) significativamente menores que a faixa etária menor ou igual a 75 anos (46.43%), porém, as demais variáveis não apresentaram diferenças significativas. Embora não haja na literatura comparação do escore UCLA à faixa etária, Bufquin et. al observou que os pacientes < 75 anos apresentaram uma tendência a maior pontuação no escore Constant (p=0.06)17.
Os pacientes do sexo masculino apresentaram elevação (p=0.014) e escore Constant (p=0.019) significativamente maiores que os do sexo feminino. Essa diferença pode ser explicada pela constatação de que, mesmo entre pessoas com ombros normais, os homens apresentam escore Constant significativamente maior que as mulheres18.
O tempo de acompanhamento apresentou correlação direta significativa com a elevação (p=0.005), o escore UCLA pós-operatório (p=0.037) e o delta UCLA (p=0.006). Esta relação está de acordo com a apresentada na literatura, ou seja, quanto maior o período de acompanhamento, melhores os resultados funcionais12,16. No entanto, esta associação ocorre até certo ponto, a partir do qual há uma progressiva deterioração dos resultados clínicos, o que passa a ser evidenciado após um período de 6 a 8 anos19-21.
Outro ponto importante a ser analisado dentro os pacientes submetidos à ARO é o tipo de indicação, pois há correlação importante com a taxa de sucesso e incidência de complicações4.
Nesta análise, a sequela de fratura foi a indicação com os melhores resultados pós-operatórios para elevação anterior, escore Constant, UCLA pós-operatório e delta UCLA. Já a fratura aguda e AMR compartilham os melhores resultados para o escore ASES. No entanto, a literatura apresenta, na maioria dos casos, a AMR como a indicação com os melhores resultados clínicos4,20,22.
Apesar de a AMR não ter obtido os melhores resultados para os escores UCLA e Constant dentro deste estudo, ao se analisar de forma isolada os resultados dessa indicação, observa-se que eles são satisfatórios e semelhantes aos apresentados em estudos nacionais, que encontraram a pontuação média de 29.8 para o escore UCLA pós-operatório5, 19.7 para o delta UCLA5 e 60 pontos para o Constant11. Com isso, ratifica-se as informações contidas na literatura, que apresenta a AMR como uma indicação clássica com ótimos resultados funcionais.
A doença com os piores resultados funcionais foi a revisão de artroplastia primária, que apresentou médias inferiores às demais indicações para elevação, escore Constant, escore ASES, UCLA pós-operatório e delta UCLA, resultados consistentes com os apresentados pela literatura4,22.
Portanto, este estudo concluiu que, após dois a sete anos, a artroplastia reversa de ombro apresentou resultados funcionais satisfatórios, sendo eles influenciados pelo sexo, idade, tempo de seguimento e indicação à ARO.