RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 64 anos, avaliado em consulta do departamento de pé e tornozelo por edema na região maleolar interna do tornozelo esquerdo com dois anos de evolução, associado a queixas álgicas locais, sem deficits motores ou alterações neurovasculares (Figura 1). Foi realizada ressonância magnética que revelou a presença de uma lesão nodular de tecidos moles de 4x4x2,6 cm nos planos superficiais da região peri-maleolar interna, suprajacente ao retináculo dos tendões flexores, independente do feixe neurovascular, com características aparentemente benignas, sendo considerada como um provável miolipoma (Figura 2).
Como foi inicialmente interpretada como uma lesão benigna, após avaliação clínica e imagiológica e discussão aprofundada em reunião multidisciplinar, optou-se pela realização de uma biópsia excisional da lesão que confirmou a presença de uma lesão tumoral nodular, subcutânea, bem delimitada, capsulada, com envolvimento cutâneo focal e sólida, de consistência dura, com margens livres com 5cm x 3,5cm nos diâmetros principais (Figura 3). Na verdade, Efstathopoulos et al. relata a excisão de um tumor de menores dimensões numa localização semelhante, também sem biópsia prévia, dada a aparência aparentemente benigna deste. Este caso relatado será mais um com importância para partilhar e alertar para a possibilidade de exérese sem biópsia prévia e avaliação das margens adequadas neste tipo de lesões. No entanto, quando o diagnóstico não é conhecido, é importante a realização de uma biópsia para a confirmação do diagnóstico antes de proceder à sua ressecção. Microscopicamente (Figuras 4, 5 e 6), o tumor revelou um padrão de crescimento fascicular, com feixes de células fusiformes intersectadas em ângulos retos, intimamente relacionados aos vasos sanguíneos. As células apresentavam citoplasma eosinofílico, fibrilar e núcleo atípico, algumas delas de espeto bizarro. Áreas raras de necrose coagulativa estavam presentes (menos de 50%, FNCLCC: Pontuação 1). Foram observadas figuras mitóticas típicas e atípicas, sendo nenhum colagénio cruzado visto, 8/10 H.F.P (FNCLCC: Pontuação 1). Os tecidos adjacentes não foram infiltrados pelo tumor. As margens da secção cirúrgica estavam isentas de tumor.
A avaliação imunoistoquímica mostrou expressão difusa e forte de α-actina de músculo liso, desmina e H-caldesmon, sem expressão para qualquer tipo de citoqueratina (AE1 / AE3, EMA, citoqueratinas 5 e 7), CD117, CD34, proteína S100 ou Melan UMA. Os aspectos morfológicos e imuno-histoquímicos corresponderam a um leiomiossarcoma subcutâneo bem diferenciado. (Grau histológico: G2, FNCLCC: Pontuação 2).
Um estudo mais aprofundado com TC toraco-abdomino-pélvico e cintilografia óssea descartaram a presença de metastização óssea ou remoção incompleta do tumor.
O acompanhamento e o tratamento foram realizados em conjunto com um centro de referência em oncologia musculoesquelética. Foi decidido não realizar quimioterapia ou radioterapia adjuvante.
Após 2 anos de seguimento, o paciente apresenta-se assintomático, com um score FADI de 100% e livre de doença nos últimos controlos com RM, TC e cintilografia óssea.