DESCRIÇÃO DO CASO
M.V.S.C., 1 ano e 3 meses, sexo feminino, nascida com 40 semanas de gestação. Progenitora com 29 anos, sem histórico familiar de OI, primigesta, realizou 13 consultas pré-natais no Ambulatório de Alto Risco do HUSF devido a Diabetes Mellitus Gestacional e à hipótese diagnóstica de feto com OI.
Ultrassonografia obstétrica do 1° trimestre não apresentou alterações. Já no USG Obstétrico Morfológico cuja idade gestacional era de 20 semanas, observou-se encurtamento dos fêmures bilateralmente (fêmur direito= 17mm, fêmur esquerdo= 20mm) e membros superiores sem anormalidades, tendo como hipótese diagnóstica Fêmur Curto Congênito. Posteriormente, foi feito USG Obstétrico compatível com 30 semanas e 4 dias, com displasia de ossos longos (Fêmur=4,45cm compatível com 24 semanas; Ulna= 4,47cm compatível com 28 semanas), e suspeita de fratura de fêmur direito (Figura 1). Apesar das alterações de membros longos nos USG anteriores, a hipótese de OI surgiu apenas após o USG Obstétrico de 3º trimestre.
Nascida de parto cesárea, apresentação pélvica, peso 2370g, perímetro cefálico 34,5cm, Apgar 7/8. Ao exame físico observou-se regular estado geral, corada, hidratada, anictérica, cianótica 2+/4+, ativa, reativa, fontanelas normotensas. Exames cardiopulmonar e abdominal sem alterações. O exame osteomioarticular apresentava hipotonia muscular, encurtamento de membros inferiores com geno varo (Figura 2), sem crepitações em clavículas e costelas. Escleras sem alterações.
Exames radiológicos evidenciaram rarefação óssea, inclusive em calota craniana (Figura 3), e fratura de fêmur direito (Figura 4), sendo indicada a colocação de gesso pélvico podálico para imobilização e analgesia. O caso foi encaminhado para serviço de referência onde a paciente foi classificada como portadora de OI tipo III ela Classificação de Sillence.
Exames laboratoriais (aos 10 meses de idade): cálcio sérico= 10,5 mg/dL; cálcio iônico= 1,32 mg/dL; fósforo= 5,9 mg/dL; vitamina D= 87,2 ng/ml; FALC= 254 U/L; PTH=8 pg/ml; Hb=11,3 g/dL; Ht= 35%; plaquetas= 685.000/mm³; TGO=32 U/L; TGP=13 U/L; creatinina= 0,2 mg/dL; ureia= 31 mg/dL.
No primeiro mês de vida, foi confirmada a fratura de rádio, ulna e fêmur esquerdos, e úmero direito, a partir de consolidações ósseas vistas na radiografia. No primeiro ano de vida a paciente teve fratura de úmero direito (Figura 5) e esquerdo, e microfraturas em fêmur direito e esquerdo vistas a partir de consolidações ósseas na radiografia. Paciente está em acompanhamento com Otorrinolaringologista devido a alteração nos exames de Emissão Otoacústica (EOA) e no Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico (PEATE), os quais evidenciaram leve perda auditiva em orelha esquerda.
Devido a falta da disponibilidade da medicação pelo Sistema Único de Saúde o início do tratamento com Pamidronato Dissodico foi postergado, enquanto não foi feita a medicação a paciente apresentou diversas fraturas no primeiro ano de vida.
Com 1 ano de idade recebeu a primeira dose de Pamidronato Dissódico (1º dia:0,25mg/kg, 2º e 3º dias: 0,5mg/kg/dia), apresentou febre, coriza e necessidade de inalação com oxigênio no 3º dia da primeira dose. O intervalo entre as doses é de 2 meses. Além disso, faz uso de colecalciferol 4 gotas/dia e carbonato de cálcio 500mg/dia.
Após início da medicação a paciente não apresentou mais fraturas até o presente momento, o que corrobora com dados da literatura com relação do tratamento medicamentoso e o aparecimento de fraturas.
Além do tratamento medicamentoso, a paciente também faz acompanhamento multidisciplinar com profissionais da Pediatria, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Endocrinologia e Fisioterapia.