RESULTADOS
Selecionaram-se 184 doentes com fraturas da coluna cervical sem lesão neurológica, internados entre 1 Janeiro 2007 a 31 Dezembro 2016, com idade superior ou igual a 65 anos. A idade média foi de 77,6 anos (± 7,37A). Os doentes foram distribuídos por dois grupos etários, 101 (54,9%) tinham idade inferior a 80 anos e 83 (45,1%) tinham idade superior a 80 anos. Cento e sete (58,2%) eram do género masculino e 77 (41,8%) do género feminino.
Nos 10 anos de estudo há uma incidência crescente das fraturas da coluna cervical na população idosa e o maior número de ocorrências ocorre entre os anos de 2012 e 2014 (Figura 1).
Quando agrupados por triénios, foram contabilizados 40 doentes nos primeiros 3 anos e 80 nos últimos 3. O número de doentes no segundo triénio duplicou (Figura 2).
A maioria das fraturas ocorreu na coluna cervical alta (C0-C1-C2), com um total de 132 (71,7%) doentes.
Dos 132 doentes diagnosticados com fratura da coluna cervical alta, 26 tinham fratura isolada de C1, 74 tinham fratura isolada de C2, os restantes 32 doentes tinham fraturas e/ou luxação de C1 e C2. Dos 74 (56%) doentes com fratura isolada de C2, em 42 (56,8%) eram fraturas do processo odontóide e nestes, 24 (57,1%) foram classificadas como fraturas do processo odontóide tipo II pela classificação de Anderson e D’Alonzo9.
Verificou-se um total de 120 (65%) fraturas envolvendo C2. A fratura do processo odontóide esteve presente em 64 doentes (34,8%) e nestes, mais de metade foram classificadas como tipo II, 38(59,4%).
Nos 184 doentes, as fraturas do processo odontóide classificadas como tipo II, ocorreram em 38 (20,7%) (Tabela 3) (Figura 3).
O principal mecanismo de lesão foi a queda acidental em 77,7%, seguido dos acidentes de viação em 16,9% (Tabela 4).
Para além da fratura cervical, 106 (57,6%) doentes apresentaram outro traumatismo, o mais frequente foi o traumatismo crânio-encefálico (TCE), em 80 doentes (75,5%) (Tabela 5).
Quanto aos antecedentes pessoais, 108 (58,7%) doentes apresentaram comorbilidades. A patologia que mais se repetiu foi a hipertensão arterial, em 74 (68,5%) doentes, seguida de diabetes mellitus tipo II, presente em 27 (25%) doentes.
O tratamento conservador foi instituído em 154 (83,7%) doentes e o cirúrgico em 30 (16,3%) doentes. A osteossíntese do processo odontóide foi a cirurgia mais realizada, seguida de artrodese anterior com mais de 2 níveis (Tabela 6). Em 2014, 3 doentes faleceram antes da decisão terapêutica pelo que foram incluídos no grupo de doentes tratados conservadoramente.
Quando agrupados por triénios, o tratamento conservador teve um crescimento de cerca de 2.21 vezes e o tratamento cirúrgico de 1.5 vezes (Figuras 1 e 2).
O tratamento cirúrgico foi mais frequente nos doentes com idade inferior a 80 anos (p<0,05).
Catorze doentes foram internados no serviço de medicina intensiva com um tempo médio de internamento de 15,8 dias (±12,7d). A taxa de mortalidade dos doentes internados neste serviço foi de 28,5% (Tabela 7).
A média de dias de internamento foi de 16 dias (±20,7d), com os doentes submetidos a cirurgia a presentarem internamentos mais prolongados (p<0,001).
A taxa de mortalidade dos doentes com fraturas da coluna cervical sem lesão neurológica no internamento foi de 8.2% (15 doentes). O número de mortes foi maior no grupo etário com idade ≥80 anos, registando-se 11 (13,3%) mortes, com diferença estatisticamente significativa (p<0,001) relativamente ao grupo com idade <80 anos, com doentes (66,7%) (Tabela 8).
A causa de morte foi apurada em 10 dos 15 doentes falecidos. A patologia respiratória foi responsável por 6 (60%) mortes, 2 doentes faleceram por insuficiência renal, 1 doente por AVC pós-cirúrgico e 1 doente por choque hipovolémico. Os doentes falecidos no serviço de medicina intensiva tiveram como causa de morte a patologia respiratória.
A mortalidade até aos 30 dias após alta foi 4,9%, 9 doentes.
A Tabela 9 resume os resultados da análise estatística.