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Volume 29, Fascículo I   Fratura Luxação do Punho - Reconstrução com o auxílio da Artroscopia
Fratura Luxação do Punho - Reconstrução com o auxílio da Artroscopia
Fratura Luxação do Punho - Reconstrução com o auxílio da Artroscopia
  • Caso Clínico

Autores: José Lito Mónico; João Boavida; José Alexandre Marques; Paulo Gil Ribeiro; Maria Pia Monjardino; Paulo Costa
Instituições: Serviço de Ortopedia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Revista: Volume 29, Fascículo I, p26 a p31
Tipo de Estudo: Estudo Terapêutico
Nível de Evidência: Nível V

Submissão: 2018-06-28
Revisão: 2020-12-10
Aceitação: 2021-01-20
Publicação edição electrónica: 2021-11-22
Publicação impressa: 2021-11-22

INTRODUÇÃO

As fraturas da extremidade distal do rádio são frequentemente observadas na urgência ortopédica, totalizando cerca de 10% de todas as fraturas e 75%  das fraturas do antebraço1,2. Tendo como objetivo a reconstrução anatómica da superfície articular, o diagnóstico e tratamento das lesões ligamentares  envolventes reveste-se de uma importância fundamental1. Vários autores relatam uma alta incidência de lesões do complexo de fibrocartilagem triangular e da articulação distal rádioulnar, identificadas através de radiografias dinâmicas, Tomografia Computorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM)3,4. No entanto, nenhum destes métodos é totalmente fidedigno no diagnóstico deste tipo de lesões. A artroscopia surge como  método de diagnóstico e terapêutico5. No período pós-operatório, a artroscopia tem apresentado uma reconstrução articular e resultados funcionais  superiores à técnica cirúrgica convencional, apenas controlada por fluoroscopia. As fraturas luxações do punho são lesões pouco frequentes, complexas e de exigente tratamento. Nestes casos, a reconstrução óssea anatómica e ligamentar é fundamental2, pois as sequelas são relevantes no funcionamento do punho. Incluem-se a pseudartrose, dor crónica, diminuição da amplitude articular e incapacidade de suporte de carga2,6.

MATERIAL E MÉTODOS

Apresenta-se um caso clínico de um doente do sexo masculino, 41 anos, vítima de acidente de mota com traumatismo de alta energia do punho esquerdo. À  entrada no serviço de urgência, doente apresentava fratura luxação radiocárpica multifragmentária com envolvimento articular, AO 2R3B2.3 (Figura 1).

Foi feita a redução fechada imediata sob anestesia local, a aplicada de uma imobilização gessada braquipalmar.

Realizou-se a TC articular (Figura 2) e diferiu-se o tratamento cirúrgico, de modo a melhorar o edema dos tecidos moles.

Ao 6º dia após fratura, realizou-se a osteossíntese com placa distal anatómica autobloqueada do rádio, estabilização do fragmento articular e estabilização rádio-cárpica com fio de Kirschner. O tempo operatório incluiu a artroscopia do punho para controlo da redução da fratura articular e avaliação da fibrocartilagem triangular (Figura 3).

RESULTADOS

A reconstrução anatómica (Figura 4), controlada por artroscopia do punho, permitiu obter as condições para um ótimo resultado clínico-funcional.  (Figura 5) A artroscopia revelou uma desinserção foveal da fibrocartilagem triangular, que se tratou com imobilização gessada tipo “sugar tongue”.

Atualmente o paciente encontra-se sem dor e apenas com 10º de limitação na flexão/extensão do punho, registando um DASH Score de 1.7 pontos em 100.

DISCUSSÃO

A redução anatómica e imobilização é o princípio básico no tratamento de qualquer fratura. Nas fraturas articulares, atingir este objetivo revela-se primordial para restaurar a respetiva função da articulação2.

Estudos anteriores demonstraram que a RMN, comparativamente à artroscopia, atinge: 86% sensibilidade para o diagnóstico de lesões do ligamento escafolunar, 50% sensibilidade para o diagnóstico de lesões do ligamento lunatotriquetral e 89% sensibilidade para o diagnóstico de lesões do complexo da fibrocartilagem triangular. Em todos os casos a especifidade da RMN comparativamente à artroscopia atingiu os 100%4.

Para além da capacidade de diagnóstico de lesões ligamentares, a artroscopia tem-se afirmado como uma ferramenta muito útil na redução anatómica de fragmentos articulares visto que permite a visualização direta dos fragmentos e do seu respetivo alinhamento3,7. Vários estudos demonstram que doentes submetidos a artroscopia têm uma recuperação mais rápida e com melhores resultados funcionais comparativamente aos doentes tratados pela técnica cirúrgica convencional com recurso à fluroscopia3.

CONCLUSÃO

A redução e osteossíntese de uma fratura luxação radiocárpica multifragmentária é desafiante. O planeamento cirúrgico tem que ser meticuloso e  realizado em momento oportuno. A artroscopia afigura-se como uma ferramenta inovadora e útil no auxílio da reconstrução anatómica da superfície  articular, permitindo obter um excelente resultado funcional. Para além do referido, é a artroscopia o principal e mais eficaz método de diagnóstico de lesões dos tecidos moles envolventes.

Referências Bibliográficas

1. Richards R, Bennet J, Roth J. Arthroscopic Diagnosis of intra-articular Soft Tissue Injuries Associated With Distal Radial Fractures. J Hand Surg. 1997; 22A: 772-776

2. Azar FM, Terry SC, Beaty JH. Campbell’s Operative Orthopaedics. 13th Ediction. Elsevier; 2017.

3. Porter M, Tillman R. Pilon fractures of the wrist: displaced intra-articular fractures of the distal radius. J Hand Surg. 1992; 17B: 63-68

4. Magee T. Comparison of 3-T MRI and Arthroscopy of Intrinsic Wrist Ligament and TFCC Tears. American Journal of Roentgenology. 2009; 192: 80-85

5. Ruch S. Arthroscopic Reduction Versus Fluoroscopic Reduction in the Management of Intra-articular Distal Radius Fractures. The Journal of Arthroscopic and Related Surgery. 2004; 20 (3): 225-230

6. Trumble T. Factors Affecting Functional Outcome of Displaced Intra-articular Distal Radius Fractures. J Hand Surg. 1994; 19A: 325-340

7. Doi K. Intra-Articular Fractures of the Distal Aspect of the Radius: Arthroscopically Assisted Reduction Compared with Open Reduction and Internal Fixation. Journal of Bone & Joint Surgery - American. 1999; 81 (8): 1093-1110

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