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Volume 29, Fascículo II   Artroplastia de Revisão do Joelho com defeito ósseo não contido - Um caso clínico de sucesso
Artroplastia de Revisão do Joelho com defeito ósseo não contido - Um caso clínico de sucesso
Artroplastia de Revisão do Joelho com defeito ósseo não contido - Um caso clínico de sucesso
  • Caso Clínico

Autores: José Lito Mónico; Pedro Marques; João Boavida; Paulo Costa; António Vicente
Instituições: Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Revista: Volume 29, Fascículo II, p131 a p137
Tipo de Estudo: Estudo Terapêutico
Nível de Evidência: Nível V

Submissão: 2019-01-05
Revisão: 2020-10-05
Aceitação: 2021-03-31
Publicação edição electrónica: 2022-04-01
Publicação impressa: 2022-04-01

INTRODUÇÃO

A artroplastia total do joelho é um procedimento cirúrgico bastante comum e com um crescimento acentuado nos últimos anos1.

São vários os motivos de revisão de artroplastia do joelho, sendo o descolamento asséptico, instabilidade dos componentes protésicos, infeção e  desgaste do polietileno as causas mais comuns2.

Quando uma destas causas está presente, geralmente, faz-se acompanhar de extensas perdas de massa óssea que comprometem o suporte e fixação de um  novo implante2. Para além do referido, a qualidade do osso remanescente é pobre, comprometendo a interface cimento/osso ou a integração de enxerto  ósseo2. Um dos objetivos da revisão de artroplastia é a preservação da massa óssea remanescente e o seu reforço, criando condições de estabilidade para a aplicação dos novos componentes protésicos de revisão2.

MATERIAL E MÉTODOS

Apresenta-se um caso clínico de um doente com 72 anos de idade, portador de duas artroplastias totais do joelho bilaterais primárias ambas com cerca  de 10 anos de evolução. Clinicamente, o doente apresentava gonalgia direita com vários meses de evolução, uma flexão/extensão (F/E) semelhante  bilataralmente (100/5/5º), joelhos sem derrame articular, calor, rubor ou edema. Radiologicamente, verificava-se uma osteólise metafisária da tíbia,  especialmente do prato lateral (Figura 1). Efetuado estudo microbiológico pre-operatório, por aspiração articular com saída de escasso líquido serohemático, que positivou para um Staphylococcus capitis. No entanto, analiticamente, sem leucocitose e com PCR negativa.

O doente foi submetido a revisão de artroplastia total do joelho direito em 1 tempo com aplicação de enxerto ósseo de cadáver e uso de prótese de revisão com cones metafisários de reconstrução.

Intraoperatoriamente, confirmou-se um defeito não contido da metáfise tibial lateral (Figura 2), foi aplicada tábua cortical externa e granulado ósseo  de preenchimento (Figura 3). Durante o tempo cirúrgico, efetuaram-se colheitas de novas amostras paras culturas microbiológicas que se revelaram negativas.

RESULTADOS

O restauro da articulação e do seu suporte metafisário permitiu obter resultados clínico-funcionais excelentes. Ao longo de 12 meses de evolução, a metáfise permaneceu íntegra, com uma altura adequada e com o enxerto ósseo integrado (Figura 4). Atualmente o paciente encontra-se sem dor, com uma flexão/extensão de 100/0/0 e apresenta um KOOS PS Score de 81.4/100.

DISCUSSÃO

Nos últimos anos, tem-se registado um aumento notório do número de artroplastias do joelho de revisão efetuadas1. Dos diversos fatores motivadores  de uma revisão, salienta-se o aumento do número de artroplastias primárias do joelho e a idade cada vez mais reduzida dos doentes portadores desta  artroplastia. A revisão de uma artroplastia total do joelho pode ser precoce, se realizada nos primeiros 2 anos após cirurgia, ou tardia3.

Como fatores indicadores de revisão da artroplastia encontram-se: dor, instabilidade, limitação da amplitude de movimento, infeção e descolamento  asséptico. Cada um destes fatores pode sumarizar um conjunto de problemas variados com necessidade de diferentes tratamentos. Como tal, identificar e diagnosticar os fatores motivadores de uma revisão é um passo fundamental para uma artroplastia de revisão bem sucedida4.

Nas revisões tardias, o desgaste do polietileno é o principal motivo de revisão devido à osteólise, instabilidade ligamentar e descolamento asséptico causadas5.

O restauro da função do joelho e do seu arco de movimento é sempre um dos objetivos principais de qualquer artroplastia de revisão. Para tal, múltiplos são os problemas que um cirurgião tem que enfrentar6. Destes problemas, destaca-se a necessidade de restauro da interlinha articular e a reposição da perda de massa óssea, frequentemente subestimada  nos exames radiológicos de planeamento pré operatório7.

Para a escolha da prótese de revisão, o cirurgião deve considerar a integridade dos ligamentos colaterais e do aparelho extensor, bem como, a quantidade e a qualidade do osso residual4.

Para reconstruir um joelho com perda óssea, um cirurgião pode ter à sua disposição: próteses de reconstrução restritivas, próteses com hastes  de revisão, próteses com cones metafisários, preenchimento do defeito ósseo com enxerto ósseo estrutural, cimento ou cunhas de aumento4.

A longo prazo, efetivamente, ainda nenhum tratamento cirúrgico se revelou superior nas revisões de artroplastia do joelho com grandes defeitos ósseos. O preenchimento da perda de massa óssea com enxerto ósseo, aplicação de componentes protésicos de adição ou enchimento com cimento são  fundamentais para o restauro da interlinha articular e respetiva optimização do balanço ligamentar2. Para além do referido, o restauro da perda óssea permite a utilização de próteses menos restritivas2.

A classificação Anderson Orthopaedic Research Institute (AORI) categoriza a perda de massa óssea em 3 categorias, orientando o seu respetivo tratamento1. Neste caso clínico, estávamos presentes perante uma perda óssea AORI tipo 2. Segundo estudos, o uso de cones metafisários de reconstrução no componente tibial confere uma ótima osteointegração e uma estabilidade inicial fundamental na prevenção da migração dos componentes e no sucesso da  artroplastia de revisão5.

CONCLUSÃO

Este é um caso clínico de sucesso onde importa salientar o estudo adequado do doente e respetivo planeamento pré-operatório. Efetivamente, a  requisição pré-operatória de osso de cadáver para enxerto e o uso de uma prótese com cones metafisários de reconstrução conferiu estabilidade à nova artroplastia de revisão, resultando no restauro do arco de movimentos do joelho e na melhoria a sua função.

Referências Bibliográficas

1. Kurtz M. International survey of primary and revision total knee replacement. International Orthopaedics (SICOT). 2011; 35: 1783-1789

2. Dennis D. AAOS Symposium - Revision Total Knee Arthroplasty. Journal of the American Academy of Orthopaedic Surgeons. 2008; 16: 442-454

3. Graichen H. TKA revision - reasons, challenges and solutions. J Orthop. 2014; 11 (1): 1-4

4. Sheth NP, Bonadio MB, Demange MK. Bone Loss in Revision Total Knee Arthroplasty: Evaluation and Management. J Am Acad Orthop Surg. 2017; 25 (5): 348-357

5. Le D, Maloney W, Huddleston J. Current Modes of Failure in TKA: Infection, Instability, and Stiffness Predominate. Clin Orthop Relat Res. 2014; 472: 2197-2200

6. Hossain F, Haddad F. Midterm Assessment of Causes and Results of Revision Total Knee Arthroplasty. Clin Orthop Relat Res. 2010; 468: 1221-1228

7. Rao B, Kamal T, Vafaye J, Moss M. Tantalum cones for major osteolysis in revision knee replacement. Bone Joint J. 2013; 95-B: 1069-1074

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